Edição nº 1645 - Terça-feira, 21 de Abril de 2009
Casal elvense revoltado - Alergia à lactose -Crianças do Alentejo prejudicadas Assim, e dado que em casos de intolerância ou alergia a lactose a solução passa por substituí-la por algum produto similar, como os leites de soja, tanto o pediatra como o médico especialista em doenças metabólicas, prescreveram à criança o leite "Visoy", leite infantil que não contém leite de vaca.
Os pais, Marco e Teresa, deslocaram-se então à farmácia para despachar a receita. No entanto, depararam-se com uma situação caricata. "Foi-me pedido o valor total do leite, quando na tampinha da embalagem estava escrito que esta era comparticipada a 100 por cento pelo Ministério da Saúde", conta Marco Santos.
Surpreso, o pai de Afonso questionou o funcionário que o atendeu na farmácia que lhe mostrou um despacho do Ministério, no qual era possível ler que "as receitas dos hospitais da região não eram válidas. Só do centro hospitalar de Lisboa, Porto, Coimbra, Açores e Madeira".
Perante esta "injustiça", dado que o Ministério da Saúde não beneficia todos os portugueses da mesma maneira, Marco e Teresa não conseguem esconder a sua revolta. Depois de darem a conhecer o caso no programa da SIC "Nós Por Cá", falaram ao nosso jornal. "Chegamos à conclusão que no Alentejo não há comparticipações a 100 por cento. Sentimo-nos afastados, pois as crianças já nascem em Badajoz e no Alentejo nem a leite de soja temos direito", lamenta o pai de Afonso, acrescentando que "achamos que estamos esquecidos no Alentejo".
Como esta é uma necessidade do seu filho, o casal elvense tem estado a pagar a totalidade de um leite que é comparticipado 100%. "Achamos injusto e estamos revoltados, mas não vamos deixar de comprar o leite", afiança Marco Santos.
Apesar de ter dinheiro para pagar esta necessidade do pequeno Afonso, o casal elvense tem estado a fazer "alguns esforços", pois gastam cerca de 150 euros por mês num leite que lhes poderia custar absolutamente zero.
Neste momento, Marco e Teresa estão a aguardar uma consulta de imunergologia pediátrica na Estefânia. "Vamos ver se me conseguem desenrascar, não tudo, mas pelo menos algumas coisas", confessou o pai, salientando que a lista de espera "é enorme, mas vamos aguardar"
Por não frequentarem acções de formação Médicos não estão certificados
Ao programa "Nós Por Cá", o Ministério da Saúde confirmou que para ter as receitas comparticipadas para o filho, este casal terá de deslocar-se a Lisboa.
A justificação, de acordo com o Ministério, é simples: como os médicos do Alentejo especialistas em doenças metabólicas não frequentaram nenhuma acção de formação para esse fim, os hospitais da região não estão certificados, logo não passam receitas válidas. Por essa razão, os pais do Afonso, e de muitos outros alentejanos, têm de pagar, na íntegra, o leite que o filho precisa de acordo com as indicações dos próprios médicos, a menos que tratem do assunto em Lisboa.
Unidade Local explicaContactado pelo nosso jornal, Luís Ribeiro, presidente da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano, explicou que este tipo de alegria é muito rara, metabólica e tem mesmo de ser seguida nos hospitais centrais. De acordo com o presidente, no Alentejo, tal como em muitos pontos do País, não há especialistas e, além disso, há uma Portaria que estabelece que só os médicos que contactem com estes casos podem passar receitas para os medicamentos. "O mesmo acontece com outras doenças, como é o caso do Alzheimer", referiu Luís Ribeiro, acrescentando que, pela raridade deste problema, não é possível ter especialistas nos hospitais distritais. No entanto, sublinha que "o transporte de doentes e famílias está assegurado pelo Estado" e que "há formas de contornar o problema". "Quando as pessoas se deslocam às consultas podem pedir para que o médico passe as receitas para cerca de seis meses", afirmou
Textos: Catarina Lopes
( Fonte: Jornal Fonte Nova/ Portalegre)