A "questão do sal" no pão é um pretexto. Com certeza uma indulgência que tem lugar numa democracia plastificada.O pretexto é a saúde pública. Falsa desculpa porque, qualquer português arguto, ao olhar para o insaciável mercado confronta-se com produtos "polvilhados" com sal, açúcar, etc.O pão, só saltou para a ribalta, porque há fome. Para mitigá-la, mais uma vez, corremos atrás do pão...Bem. Se na verdade temos motivos para nos socorrer do pão para fazer face à miséria galopante que a actual crise instalou, vamos para além de "plastificá-lo" dar-lhe um "ar" saudável. E assim, normalizamos o teor de sal para os 13 a 14grs/KgA partir de agora vamos aguentar os agentes da ASAE equipados com "salómetros" (não vão fazer espectrofotometria para determinar as quantidades de cloreto de sódio) - operando de modo similar aos GNR´s com os medidores da alcoolemia (no Brasil chamam-lhe "bufómetros") - à porta das padarias. Um inolvidável espectáculo!Não combato a redução do teor de sal no Pão. Essa tem sido uma preocupação e um objectivo da Confraria do Pão nas diversas experimentações que tem levado para confeccionar um pão tradicional que seja ao mesmo tempo um bom nutriente e saudável.Mas esta medida destina-se à produção industrial e pretende vender a ideia de que os poderes constituídos estão atentos à saúde dos portugueses.O carácter selectivo da regulamentação é que intriga.Porquê só o pão?Só entendo a presente regulamentação porque os legisladores têm à sua vista o espectáculo do espectro da fome a crescer, todos os dias, no horizonte das famílias portuguesas.O Governo está pior do que Roma nos dias da decadência do Império, onde grassava a devassidão e a corrupção.Esta medida significa que não poderá fazer o mesmo que Roma. Não tem pão para distribuir e o substituto do circo - o futebol - vive dias difíceis, conturbados e suspeitos.E não havendo pão para ofertar aos famintos, restava ao Governo transformá-lo num produto, de primeira necessidade (o poder tem perfeita consciência disso), mais "saudável".O resto, aquilo que outros portugueses comem, no dia a dia, pouco importa. Desta vez, questionou-se no Parlamento, sobre as particularidades do pão tradicional.Penso que a ressalva verbal feita não contempla o articulado legal. Deixamos, novamente, amplo espaço aos burocratas para as suas cavilosas interpretações ou acabamos, como estamos habituados, nos Tribunais.Deixemos a lei ser publicada.A normalização de produtos na União Europeia é o supremo êxtase dos burocratas europeus.Embora os países da UE só possam impor restrições à livre circulação de mercadorias em casos excepcionais, justificados por razões de interesse público, as restrições são o trivial por "medidas de precaução".Julgo que a circulação ou o intercâmbio do pão na UE, acabou de entrar nessas "medidas"...O Comité Europeu de Normalização (CEN), não gosta da denominação de "normalização", talvez por ter uma conotação repressiva, prefere-lhe chamá-las de "harmonização".Desde meados dos anos oitenta até agora foram publicadas mais de 15 000 normas europeias (normas harmonizadas).Muitas horas gastas em burocracia.Não devem ter dispendido um minuto para defenderem o pão tradicional, seja português (alentejano, transmontano, açoreano,..), seja italiano (pão de Altamura), seja francês (baguette,...).Não tendo pão e circo para oferecer, vai contentar-se com a distribuição do "Magalhães"... pejado de erros ortográficos, às vulneráveis criancinhas!
Publicado por João do Pão (15 de Março)
Publicado por João do Pão (15 de Março)
Confraria do Pão(Alentejo) http://joaodopao.blogspot.com/
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